por Conrado Pera
lembro exatamente do jeito que seus olhos me olham quando dentro um do outro estamos
gosto do seu corpo e da forma como ele se move quando já não se tem controle sobre ele
sobre o desejo que tinha e que mal conseguia esconder quando me mirava dentro dos olhos como que perscrutando os meus
ficávamos assim calados, um olhando o dentro do outro por instantes
na primeira vez me meneou a cabeça como que perguntando porque te olhava fixamente sem nada dizer
era porque comunicava de outra maneira, pelo não-dito, na verdade todo meu corpo comunicava por vibração
e a alma dentro, como quem dizia ao corpo e a mente: se vocês não vão, vou eu! resoluta
das outras vezes nem meneos, nem mareos: a dúvida dos desejos alheios e as ganas internas
podia ser no elevador, dentro de um carro, no balcão de um boteco, enquanto todos se estabacavam em movimentos, nós éramos olhos, silêncio e saliva
tenho a impressão de que o tempo parava, não por tanto tempo, 1 segundo, talvez nem chegasse a parar,…
mas se tornava mais lento como se a vida passasse a ser filmada em 90 quadros ao invés dos 24 clássicos do cinema francês
eu já todo orgulhoso de ter uma amizade assim, onde se trocam poemas, desejos revolucionários, anseios desbravadores, fomes de vida, e café de manhã
onde verdade e respeito chegaram primeiro e já foram logo tomando acento, como aqueles chineses que se põem a frente dos outros, não por maldade talvez, mas por pura naturalidade do não conceber outra forma.